O Modelo da Comunicação Hiperpessoal

O modelo da comunicação hiperpessoal apoia-se na ausência de visualização e na assincronia. Walther (1995) verificou que grupos de CMC sem pistas visuais têm uma maior incidência de comunicação social do que grupos face-a-face. Muitos grupos CMC evidenciam um nível de afectividade e emoção superior à comunicação face-a-face, o que está para além da comunicação impessoal, ou mesmo da comunicação interpessoal. Trata-se, segundo Walther, de “comunicação hiperpessoal”.

Na perspectiva hiperpessoal os elementos tradicionais da comunicação – receptores, emissor, canal e feedback – aparecem relacionados com os processos psicológicos da comunicação relacional.

Começando pelo receptor, muitas das pessoas que interagem na CMC tendem a percepcionar uma maior similaridade com os seus interlocutores. Chilcoat e DeWine (1985) verificaram que participantes privados de se verem, tendiam a atribuir aos parceiros de comunicação maiores similaridades de atitudes e atractividade física e social, o que as predispunha a gostarem deles.  

O emissor pode transmitir de si uma imagem mais positiva do que seria possível na comunicação face-a-face. A pessoa, ao estar liberta das preocupações com o comportamento não-verbal, pode concentrar-se por completo na construção da mensagem, transmitindo uma boa impressão. Liberto da preocupação com a aparência, o emissor estará mais próximo do seu self interior e tenderá a falar mais de sentimentos e pensamentos pessoais. Na comunicação hiperpessoal as percepções interpessoais são produto de “exageros positivos”, idealizações que se constroem a partir de auto-apresentações selectivas. 

No que respeita ao canal (CMC) Walther propõe que a comunicação assíncrona favorece a interacção pessoal porque: a) os comunicadores dedicam mais tempo à CMC havendo menos distracções externas; b) têm mais tempo para editar a mensagem; c) podem agrupar mensagens sociais e mensagens de tarefa; d) não têm de estar preocupados com a necessidade de um feedback imediato.

O feedback é o último factor. Os comunicadores procurarão sucessivamente ir confirmando as impressões iniciais que conseguiram transmitir e procurarão responder às impressões positivas que os outros emitem de si próprios. Walther considera tratar-se de um feed-back loop, que amplifica os efeitos de percepções positivas entre os interlocutores. Utz (2000) fez uma síntese dos pressupostos deste modelo, referindo que, comparativamente com a comunicação face-a-face, a CMC, ao favorecer as autoapresentações selectivas, ao permitir tempo em abundância para editar a mensagem, e ao predispor para a idealização do interlocutor, evidencia ser mais social e intima, ou seja, hiperpessoal.